Desarma*

Se chegou aqui, é porque decidiu entregar-se. Rendeu-se, muito antes de saber a quê ou a quem. Uma luta perdida pela decisão de poder ganhar no desconhecido. Aqui as armas de fogo são outras. É no lume que travamos as batalhas. É na linha de cada receita que apontamos os argumentos e disparamos ao sabor da convicção. Aqui cada conquista começa no olhar. Em sentido, a boca prepara-se para a ofensiva. Em sentidos, começa o ataque. Amargo, doce, ácido, salgado, quente, frio, surpreendente, explosivo. Um exército de sensações que nos desarma a cada investida. Ouve-se o silêncio ensurdecedor da comida que nos deixa sem palavras. Neste lugar, onde não se faz conversa, a conversa faz-se. O gatilho de cada prato puxa a palavra. E quando chega à mesa fala por si. Este é o campo de batalha de sentidos onde lutamos pelo triunfo do sabor. Onde plantamos a beleza da comida simples: como ela é e não como queríamos que fosse. Aqui não se encontram flores no prato. Mas no palato. E em cada garfada nasce uma nova primavera. É esta a única batalha pela qual faz sentido lutar. A batalha de sentidos travada na boca.

A única vitória que faz sentidos.
Bem-vindo. Prepare-se para a rendição.

* uma batalha de sentidos travada na boca